O Rio Jacaré Pepira, seus afluentes, as cachoeiras e
as nascentes tornam o município um paraíso das águas, perfeito
para o turismo
Em época de crise hídrica, uma localidade com
abundância em água é uma riqueza invejável. Em Brotas, é assim.
Além de estar sobre o Aquífero Guarani e contar com o Jacaré
Pepira, um dos pouquíssimos rios limpos do Estado de São Paulo, com
corredeiras perfeitas para a prática de atividades de aventura, tem
mais de 40 cachoeiras, das quais 11 abertas à visitação, além de
nascentes de água cristalina. Sem sair da cidade, no Parque dos
Saltos, já se tem uma mostra da exuberância da natureza nas várias
quedas e corredeiras.
Nas trilhas, a caminho de uma cachoeira, você se depara
com água nascendo do chão. Na nascente mais famosa, além de
contemplar a água brotando em meio a uma areia muito branca,
borbulhante, o que já é um espetáculo, dá até para fazer música.
Os grãos de
quartzo, se friccionados com as mãos, produzem um belo
e curioso som. Não é que a areia canta?! E não é qualquer água
não! É água do Aquífero Guarani aflorando.
Areia que Canta - Foto: Divulgação |
Rio Jacaré Pepira - Foto: Luciana Pires de Jesus |
Não há como não se render às águas de Brotas.
Aliás, uma das quatro hipóteses para a origem do nome “Brotas”
é de “olhos d´água”. E o município sabe aproveitar este rico
recurso. Em 1911, já produzia a própria energia elétrica graças
às corredeiras do Jacaré Pepira. A antiga Casa das Máquinas,
localizada no interior do Parque dos Saltos, é testemunha da
história. Outro exemplo é a Usina Jacaré, que funcionou entre 1944
e 1970 e para a qual o rio foi represado, formando um lago que
ocupa aproximadamente 14,5 hectares, ideal para pesca.
A explicação da riqueza em água está no relevo de
Brotas. “A grande quantidade de nascentes da
região se deve à estrutura geológica e ao relevo que foi esculpido
sobre ela, que é bastante escarpado e, por isso com grande densidade
de nascentes se comparada às regiões mais à oeste, onde temos
vales mais amplos e menor densidade de nascentes”, afirma o
gestor da APA (Área de Proteção Ambiental)
Corumbataí-Botucatu-Tejupá, Luiz Sertório Teixeira.
Geógrafo da Fundação Florestal do Estado de São
Paulo, ele detalha que as rochas da região são
basicamente de dois tipos: arenito, de origem sedimentar,
bastante susceptível à erosão, poroso e, por isso, com
capacidade de armazenar água; e basalto, de origem
em derrames vulcânicos, bastante dura e impermeável.
“Estas rochas estão dispostas em camadas umas
sobre as outras, sendo, de cima para baixo, começando com o arenito
da Formação Itaqueri, depois o basalto da Formação Serra Geral e,
abaixo deste, temos os arenitos das formações Botucatu e
Piramboia. É dentro destes dois arenitos que estão armazenadas
as águas do Aquífero Guarani”, completa.
Aproveitando as águas
Atualmente, Brotas é a capital do turismo de aventura e
ecoturismo por concentrar a maior oferta de atrativos desta natureza
no Brasil. Só em água, são pelo menos dez atividades. A mais
conhecida é o rafting. Outra maneira de descer o Jacaré Pepira é
em caiaque inflável, mais rápido e ágil que o bote. Também vale
muito a pena fazer o boia cross. Usando uma boia e equipamentos de
segurança, o turista deixa-se levar pelas corredeiras e quedas
d´águas. Para quem gosta de desafio, o circuito cable: wakeboard,
kneeboard, skiboat. Cabos motorizados puxam o
participante que, em pé sobre a prancha, tenta se equilibrar e fazer
curvas e manobras. É pura diversão! Entre as
atividades envolvendo água, há ainda, canoagem, stand up paddle,
aquaball e, claro, banho de cachoeira.
Cuestas Basálticas - Foto: Ju de Francisco |
Foi aproveitando a riqueza das águas e a beleza natural
do seu relevo assimétrico, das cuestas com
encostas cobertas de mata atlântica e pedras de arenito que afloram
em meio à vegetação de cerrado que floresceu o turismo de aventura
e o ecoturismo. Várias propriedades rurais que,
no passado, se dedicavam ao cultivo do café, hoje são atrações
turísticas.
Infraestrutura
Em Brotas há mais de 40 meios de hospedagem entre
hotéis, pousadas, hotéis-fazenda e resorts, 30 restaurantes com
gastronomia para todos os paladares, da cozinha caipira à temática.
Considerando que é uma típica cidade do
interior, as atrações da área urbana vão te surpreender. Além de
um bom número de restaurantes e hotéis, há teatro, cinema e
o mais moderno
observatório e planetário da América Latina, o
CEU - Centro de Estudos do Universo.
Centro de Estudos do Universo (CEU) - Foto: Divulgação |
Também valem o passeio no Museu do Café, o
Museu do Calhambeque e o Museu Bozo D´Água, que expõe troféus e
medalhas conquistados pela equipe de rafting Bozo D´Água, que foi
tricampeã mundial. Há lojas de artesanato para compras diversas e
um ateliê de cerâmica que, além de
comercializar belas peças, possibilita, mediante agendamento,
observar a queima do material com técnica
japonesa chamada raku.
Por ano, Brotas recebe, em média, 250 mil turistas. É
atividade econômica sustentável que já responde por 25% da renda
gerada no município de 22 mil habitantes. A localidade
sempre teve laços afetivos, históricos e culturais com o Rio Jacaré
Pepira que, em parte graças ao relevo da região, se mantém limpo.
“O relevo bastante escarpado possibilitou,
historicamente, que significativas áreas com vegetação nativa
fossem conservadas e poupadas da expansão das atividades
agropecuárias que acompanharam a ocupação de nossa sociedade nesta
região”, frisa Teixeira.
Córrego das Águas Claras - Foto: Luciana Pires de Jesus |
Não há relatos na história da cidade, mesmo com a
recente estiagem, de falta de água ou racionamento. A população é
abastecida por dois pequenos rios cristalinos: o Córrego das Águas
Claras e o Córrego da Minhoca através de uma autarquia ligada à
Prefeitura de Brotas. Atualmente, o município
possui uma legislação avançada de preservação
das matas ciliares, trata todo o esgoto que produz e tem conseguido
aumentar as áreas verdes. Segundo o inventário
Florestal do Instituto Florestal (2010), o município de Brotas conta
com 13,8% de seu território coberto por vegetação nativa, o
que ajuda muito na conservação da qualidade e na quantidade das
águas tanto superficiais como subterrâneas.
Além disso, 34,36% do território do município de
Brotas estão dentro da APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, criada para
proteger as cuestas, a biota - tanto do cerrado quanto da mata
atlântica -, o Aquífero Guarani, as várzeas, as águas
superficiais e o Patrimônio Arqueológico. “Ainda neste ano
será iniciado o processo de elaboração do Plano e Manejo da APA,
que definirá um zoneamento ambiental para ela, setorizando-a de
acordo com as fragilidades dos atributos protegidos e definindo
regras de uso que visão garantir a perpetuidade dos atributos
protegidos e a melhoria da qualidade de vida das populações que
nela vivem”, completa Teixeira. O Rio Jacaré
Pepira, seus afluentes, as cachoeiras, as nascentes e o Aquífero
Guarani, que são atributos naturais invejáveis fazem de Brotas um
paraíso das águas. E o município está empenhado em usar estes
recursos de maneira sustentável.
Texto: Lettera Comunicação
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